Associados relatam suas experiências e pontos de vista sobre o tema.
A relação entre fé e agricultura é antiga e profunda. Na rotina do campo, onde o trabalho depende diretamente da natureza, a espiritualidade muitas vezes se torna uma grande aliada dos produtores rurais. Para entender melhor esse vínculo, conversamos com Associados da CERTAJA Desenvolvimento, que compartilharam suas experiências e opiniões sobre como a fé influencia suas vidas e atividades.
O Brasil é um país predominantemente cristão, e muitos de nós crescemos sob essa influência. Diversas pessoas passam pelo batismo na infância e pela catequese na adolescência, carregando esses ensinamentos para toda a vida. Alguns princípios do cristianismo, como a existência de um Deus e o criacionismo, podem muitas vezes ser questionados pela ciência, mas, sem dúvida, fazem parte do subconsciente coletivo e influenciam nosso dia a dia. Na atividade rural não é diferente. Atividade milenar, conhecida como uma das primeiras profissões do mundo, a agricultura é frequentemente citada na Bíblia, destacando sua importância e sua ligação com a espiritualidade.
O Associado Gilberto Rambor é produtor de melancia em Triunfo e, atualmente, cultiva suas lavouras em Encruzilhada do Sul. Evangélico, Gilberto acredita que a própria atividade agrícola favorece o exercício da fé. Segundo ele, na agricultura é mais fácil alcançar a fé do que em outras profissões, pois o produtor muitas vezes investe alto valor em sementes e precisa acreditar que aquele pequeno grão se transformará numa planta produtiva e geradora de frutos. Ele ressalta que a fé pode manifestar-se diretamente através de milagres, como a chegada da chuva no momento ideal, ou indiretamente, quando o investimento em um equipamento supera as expectativas, ou através da ajuda inesperada de pessoas que trazem soluções para problemas difíceis de serem resolvidos sozinho. “Quando uma safra dá errado, o produtor ainda mantém a fé de que a próxima safra será melhor”, conclui Gilberto.

Já o Associado da CERTAJA e produtor de soja em Gravataí, Valmir Mendes, é enfático ao dizer que “a fé é tudo”. Valmir cursou seis anos de seminário católico, mas o sonho de formar uma família o afastou da carreira religiosa. Para ele, a fé gera confiança e maior disposição para o trabalho, especialmente diante dos desafios da agricultura, atividade que descreve como uma empresa “a céu aberto”, dependente diretamente do clima. Valmir acredita que o milagre da vida está na semente, a qual é o ponto de partida da lavoura. Ele completa, com bom humor: “Quem entra na agricultura sem fé, em dois anos já está procurando uma igreja”, destacando o sofrimento causado pelas incertezas dessa profissão.

Por outro lado, o pecuarista e produtor de soja em Arroio dos Ratos, Arhan Chagastelles Pinto, apresenta uma visão diferente. Médico veterinário por formação, Arhan cresceu numa família católica praticante, participando desde criança da rotina religiosa de missas e terços. Atualmente, porém, considera-se ateu e acredita que os fenômenos naturais possuem explicações físicas e científicas. Para ele, a fé é apenas uma maneira mais fácil de lidar com o conceito da vida após a morte, oferecendo esperança de continuidade. Ainda assim, Arhan reconhece que, em momentos difíceis como uma doença grave na família ou períodos de seca severa, o primeiro instinto é recorrer a Deus.

Independentemente da crença pessoal, fica evidente que a fé possui papel significativo no cotidiano do produtor rural. Seja na esperança de uma boa safra ou no conforto em tempos difíceis, a espiritualidade permanece como um elemento essencial na trajetória daqueles que trabalham e vivem do campo.
Israel Rosa da Silva, Agrônomo da CERTAJA Desenvolvimento.
